Precisamos falar do futuro da saúde
Publicado 14 de August de 2019
Julio Dornelles de Matos, Diretor-geral da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, publicado no jornal Zero Hora de 14 de agosto de 2019
Acredito que há um debate do qual a sociedade não pode mais abrir mão: o futuro da saúde no Brasil. Não se trata de falar do que está errado ou lamentar os recursos escassos, mas de buscar as alternativas mais viáveis para um sistema de saúde melhor num futuro, esperamos, próximo.
Em recente debate na Federasul, com líderes de cinco grandes hospitais de Porto Alegre, ficou muito clara a existência de uma agenda comum.
No que tange aos recursos tecnológicos, sejam equipamentos ou processos, a palavra central é a inovação. As soluções inovadoras são e serão fundamentais para o ganho de eficiência e produtividade, pontos centrais no equilíbrio econômico-financeiro de toda atividade produtiva.
Outro aspecto é o modelo de gestão das instituições de saúde, sejam filantrópicas, públicas ou privadas. A racionalização dos custos e a profissionalização das pessoas e dos processos é um caminho sem volta, sob pena da inviabilização de algumas organizações no médio e até no curto prazo. E, claro, uma atenção especial à qualidade da assistência, princípio de toda a atividade hospitalar.
No dia a dia, um dos grandes gargalos da gestão da saúde têm sido os recursos para investimentos, essenciais para a manutenção da qualidade da assistência. Assim, a geração de receitas próprias - ensino e pesquisa, estacionamentos, cafeterias etc. -, bem como as doações de empresários, como os recursos para a construção do novo hospital Nora Teixeira, são fundamentais para se depender cada vez menos de fontes como emendas parlamentares e outras verbas públicas.
Por fim, mas não menos fundamental, são revisões nas políticas públicas de saúde, para tornar os hospitais filantrópicos, que hoje respondem por mais de 50% do atendimento a pacientes SUS, mais viáveis economicamente, em especial pela diminuição do déficit que acarreta a assistência a estes. Grosso modo, hoje, de cada R$ 100 de custos, há o ressarcimento de apenas R$ 57 pelo governo federal, o que representou em 2018, para a Santa Casa, um montante de R$ 137 milhões custeados com receitas próprias, que poderiam ser, não fosse esse déficit, investidos em melhorias na instituição.
Haveria ainda um sem-número de outras questões a serem levantadas, entretanto, o mais importante é reafirmar a necessidade de manter esta pauta. Somente o debate maduro e exaustivo poderá apontar aonde queremos chegar. No caso da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, temos um claro propósito de futuro: ajudar a criar um mundo onde todas as pessoas tenham acesso à saúde de qualidade.
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