Primeiro transplante renal da Santa Casa de Porto Alegre completa 45 anos
Publicado 17 de June de 2022
Há 45 anos, uma paciente de 16 anos ganhava a oportunidade de um novo recomeço com a realização do primeiro transplante renal da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Com a doação do órgão pela mãe, o procedimento aconteceu no dia 31 de maio de 1977, marcando também o início do Programa de Transplante Renal da instituição, com os médicos Valter Duro Garcia como responsável clínico e Loreno Brentano como responsável cirúrgico.
“O transplante foi bem sucedido e a paciente apresentou boa função renal por dois anos, quando apresentou rejeição crônica e precisou retornar para a hemodiálise alguns meses após. Naquela época, utilizávamos apenas a azatioprina e a prednisona como imunossupressores profiláticos, e a metilprednisolona para o tratamento de episódios de rejeição aguda”, recorda Garcia sobre as limitações nos primeiros anos.
Atual coordenador de transplantes da Santa Casa, Garcia também lembra que mesmo antes do primeiro transplante renal no hospital, a equipe de médicos da instituição já desempenhava um papel preponderante no início dos transplantes no Rio Grande do Sul. "Considero dois episódios bastante marcantes: o primeiro foi em 1965, com o caso Elisabete, uma menina de 7 anos encaminhada para a Santa Casa com quadro de insuficiência renal crônica grave e que, após uma campanha para arrecadar recursos, foi encaminhada para os Estados Unidos para ser transplantada. Esse episódio foi responsável por motivar nossos nefrologistas e cirurgiões a se prepararem para os primeiros transplantes aqui no Estado”, conta o cirurgião nefrologista.
O segundo episódio descrito por Garcia é justamente a realização do primeiro transplante renal do RS, no ano de 1970, em uma paciente diagnosticada com glomerulonefrite crônica e insuficiência renal. “Na época, a Santa Casa já contava com uma equipe capacitada, mas ainda não tinha a estrutura adequada. O procedimento então foi conduzido pelos doutores Loreno Brentano (cirurgião) e Otto Busato (nefrologista) no Hospital Moinhos de Vento, que custeou toda sua realização”, explicou.
Primeiros passos
Nos primeiros cinco anos do Programa de Transplantes Renais da Santa Casa, entre 1977 e 1981, foram realizados apenas 20 transplantes de rim. “No início, enfrentamos uma série de desafios, decorrentes de múltiplos fatores como: dificuldades financeiras da instituição, a pouca experiência da equipe, a falta de uma política de incentivo ao transplante no país e a ausência de regulamentação sobre o diagnóstico de morte encefálica no país, além da inexistência de pagamento do procedimento tanto para os hospitais quanto para os profissionais”, destaca Garcia.
Os primeiros 100 transplantes renais foram celebrados apenas em outubro de 1986, nove anos após o início do programa. Três anos depois, em 1989, já eram 200, e em 1999 a instituição alcançava o milésimo transplante renal. “No Brasil, a fase profissional dos transplantes teve início somente em 1997, quando houve a regulamentação dos procedimentos e o ressarcimento pela sua realização”, conta o médico.
Hoje, a realidade é outra. Considerando a média da última década, anualmente são realizados cerca de 238 transplantes renais na instituição. “Os transplantes evoluíram por vários motivos. Os hospitais se capacitaram, passamos a contar com profissionais altamente qualificados, ampliou-se o conhecimento na área e houve uma importante sensibilização da população sobre a doação de órgãos. Inclusive, essa conscientização foi essencial, assim como a profissionalização da busca de doadores. Quando começamos, todo esse sistema era muito amador. Mas mesmo assim, ainda falta muito”, avalia.
Hospital Dom Vicente Scherer
Há 21 anos, um novo e importante passo para a consolidação dos serviços de transplantes foi dado pela Santa Casa. Idealizado e dirigido pelo cirurgião José de Jesus Peixoto Camargo, o Hospital Dom Vicente Scherer foi inaugurado em dezembro de 2001, tornando-se a primeira unidade hospitalar da América Latina dedicada exclusivamente para todos os tipos de transplantes. E, hoje, é considerado referência internacional em transplantes de órgãos e tecidos.
Texto e imagem: Vinicios Sparremberger/Santa Casa
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