Hospital Santa Clara

Estudo inédito da Santa Casa indica quimioterapia preventiva na Mola Hidatiforme

Publicado 21 de February de 2025
Estudo inédito da Santa Casa indica quimioterapia preventiva na Mola Hidatiforme

Uma pesquisa inédita desenvolvida na Santa Casa de Porto Alegre ao longo de 28 anos aponta para um novo paradigma no tratamento de pacientes diagnosticadas com Mola Hidatiforme Completa e de Alto Risco (MHC-AR), uma doença trofoblástica gestacional. Liderado pela ginecologista Elza H. Uberti, o estudo mostra a importância do emprego de uma dose única de quimioterapia preventiva, evitando a progressão para casos de neoplasia maligna da placenta.

O trabalho foi publicado em fevereiro de 2025 no periódico médico americano Gynecologic Oncology, com destaque editorial e também no podcast da publicação. “Chegamos a resultados com significância estatística que mostraram que o uso profilático da quimioterapia com actinomicina D, associado ao esvaziamento uterino, é um fator protetor e também reduz o aparecimento de complicações associadas ao tratamento”, aponta a médica.

O que é a Mola Hidatiforme

A Mola Hidatiforme (MH), tipo mais comum das Doenças Trofoblásticas Gestacionais, atinge mulheres em idade reprodutiva, geralmente jovens. Presente em 1 a cada 850 gestações, a MH é causada por uma anomalia no momento da fecundação devido ao excesso de carga genética masculina, o que interrompe a evolução da gravidez. A consequência é uma placenta com proliferação excessiva e ausência de embrião, ou presença de embrião malformado. Cerca de 20% dos casos progridem para a Neoplasia Trofoblástica Gestacional, que requer tratamento com quimioterapia por tempo mais prolongado. Nos casos de alto risco, essa progressão pode atingir 50% das pacientes.

Resultado de 28 anos de pesquisa

De março de 1996 a dezembro de 2023, a pesquisa acompanhou 426 pacientes do Centro de Referência em Doenças Trofoblásticas Gestacionais da Santa Casa. Ao todo, 290 receberam a dose quimioterápica preventiva no momento do esvaziamento uterino. Os resultados obtidos na evolução desse grupo foram comparados com outros 136 casos do mesmo tipo em que essa dose não foi aplicada. A incidência de progressão para neoplasia no grupo que recebeu a profilaxia foi de 19%. Nas pacientes que não receberam o tratamento preventivo, a taxa de progressão foi mais do que o dobro (39,7%). Não houve também interferência negativa no tratamento da neoplasia desenvolvida posteriormente.

“Nosso trabalho é um marco e caminha para consolidar um novo paradigma para o tratamento de qualquer paciente com MHC-AR atendido em centros especializados e que apresentem possibilidade logística para implementar quimioterapia profilática, como ocorre na Santa Casa”, conclui Elza Uberti.

O estudo contou com a participação dos pesquisadores Elza Maria Hartmann Uberti, coordenadora do Centro de Doenças Trofoblásticas da Maternidade Mário Totta, da Santa Casa de Porto Alegre; Lidia Rosi de Freitas Medeiros, do Programa de Pós-Graduação em Oncologia Ginecológica da UFCSPA; Rodrigo Bernardes Cardoso, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da UFCSPA; Karine Paiva Muller, psicóloga do Centro de Doenças Trofoblásticas da Santa Casa; Cassiano Burman Patias, do Departamento de Radiologia da Santa Casa de Porto Alegre; Thaís Feiten Nunes, do Programa de Pós-Graduação em Oncologia Ginecológica da UFCSPA; Rosilene Jara Reis, do Departamento de Oncologia Ginecológica da Santa Casa, e Josenel Maria Barcelos Marçal, do Departamento de Patologia da UFCSPA e da Santa Casa.


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